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MECANISMO DE AÇÃO

Toxicidade reprodutiva feminina: 

Uma vez que o ftalato mais tóxico a nível do sistema reprodutor é o DEHP, é nele que nos vamos focar explicando o seu mecanismo subjacente.

 

Um dos órgãos-alvo do DEHP é o ovário. Aqui, é responsável pela diminuição dos níveis de produção de estradiol. De facto, em ratos, a presença de DEHP, prolonga o cio a anovulação. Como consequência deste último ponto, verifica-se uma ausência de corpo luteo e os folículos tornam-se císticos. Por este motivo, o local de produção de estradiol- folículo pré-ovulatório – deixa de existir havendo uma quebra na sua concentração e diminuição nas células da granulosa, sendo estas o alvo citológico do DEHP.

 

A patogénese da lesão pode ser explicada pelo facto do DEHP suprimir a produção de estradiol nas células da granulosa, fazendo com essas concentrações sejam tao baixas que se tornem incapazes de estimular o aparecimento do pico de LH.

O MEHP, o metabolito ativo do DEHP, é o único ftalato capaz de diminuir, significativamente e in vitro, a produção de estradiol nas células da granulosa de ratos.

MEHP diminui o estradiol e a aromatase nas células da granulosa

 

As células da granulosa são capazes de responder à hormona estimuladora dos folículos (FSH) por um mecanismo de estimulação de enzimas estrogénicas e por diferenciação. In vivo, a produção de hormonas pelos ovários é controlada pela FSH e pela LH responsáveis por estimular, respetivamente, as células da granulosa e a teca. As gonadotrofinas FSH e LH ligam-se a recetores específicos de proteína G, estimulando a adenilciclase a trabalhar, o que culmina num acumular de cAMP. Este, por sua vez, ainda vai ativar um outro conjunto de enzimas envolvidas na síntese de esteroides.

 

O colesterol, pela enzima P450scc, vai ser convertido a pregnenolona – enzima central no processo da síntese de todas as classes de esteroides. Esta, de seguida, vai ser transformada em androstenediona, por um conjunto de enzimas (17α-OHase 17,20-Lyase) que está presente unicamente na teca e não nas células da granulosa. Por fim, esta hormona é convertida em testosterona, por ação da 17β-HSD III, e vai-se difundir para as células da granulosa. Aí, passará a estradiol pela enzima aromatase. Esta é estimulada quer pela ação direta da FSH na granulosa, que pelos substratos da aromatase, ou seja, os androgénios produzidos na teca.

 

Nas culturas celulares da granulosa do rato, o MEHP vai inibir a FSH e, por sua vez, também o vai fazer relativamente à produção da progesterona.  É de ressalvar que, in vitro, mesmo quando as células estão estimuladas pela FSH ou por outro análogo não degradável do cAMP, se o MEHP estiver presente, vai haver sempre diminuição do estradiol. Para além disto, o resultado do estradiol é independente do efeito da produção de progesterona nas células da granulosa.

O MEHP consegue fazer com o máximo da atividade da aromatase decaia sem atuar como um inibidor enzimático. Estudos recentes demonstram que o MEHP diminui o RNAm que codifica a aromatase de forma proporcional à quantidade de composto existente no organismo. Assim, o  MEHP é específico para a aromatase, não sendo responsável por diminuir os níveis de transcrição de uma enzima associada ao colesterol – P45scc – nas células da granulosa.

 

 

 

 

Ativação dos PPAR nas células da granulosa

 

Estudos recentes sugerem que o MEHP se pode comportar como um peroxissoma proliferador que possui efeito tóxico nas células da granulosa. Estes exercem o seu efeito através da ativação de recetores específicos denominados de PPARs, presentes no ovário. A isoforma mais frequente na granulosa é a PPARγ. Aquando a ligação de um substrato a estes recetores verifica-se uma inibição quer da expressão (mRNA diminui), quer da atividade da aromatase e, consequentemente, um decréscimo na quantidade de estradiol existente.

Proposta de mecanismo para as células da granulosa

Variados autores propõem que o DEHP/MEHP mimetiza os efeitos dos ácidos gordos nas células da granulosa, já que é evidente são capazes de se associar à da FABP (proteína de ligação dos ácidos gordos). O MEHP inicialmente inibe a produção de cAMP, estimulada pela FSH, possivelmente através da ativação de uma proteína G inibitória (Gi). Enquanto o MEHP se difunde na célula, ele vai ativar os PPARs. Note-se que apesar de eles serem ativados não há, pelo menos para já, evidencias de que o MEHP se liga aos PPARs. Após a então ativação dos PPARs verifica-se a libertação de ácidos gordos endógenos que outrora se encontravam ligados às FABPs e a diminuição da transcrição da aromatase, sem haver alteração dos níveis de P450scc, que representa o primeiro mecanismo de toxicidade associada ao sistema reprodutor feminino. Associado a isto, há um aumento da transcrição de FABP nas células da granulosa, criando assim mais proteínas de ligação para os PPAR ativadores.

 

De uma forma geral, um folículo pré-ovulatório presente na granulosa responde a níveis basais de FSH, tendo como resposta um aumento do cAMP e da proteína cinase A, o que estimula um aumento da expressão da aromatase. Durante o período pré-ovulatório é produzido estradiol em quantidade suficiente de modo a estimular o aparecimento de LH. A acompanhar este aumento, verifica-se o silenciamento rápido da aromatase através da inibição da transcrição do mRNA associado a esta enzima.[11]

 

Figura 5 - Modelo de ação do MEHP nas células granulosas[11]

 

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 24 de Maio de 2016

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